Rancho Folclórico São Tiago de Lobão ( Rio Grande do Sul Brasil 2010 )



























20 de Setembro – o começo da saga dos farrapos
No Rio Grande era assim. Todos os dias, na escola, antes de iniciarem as aulas, havia o ritual de hastear a bandeira. Primeiro era a do Brasil, com o hino nacional. Depois, a do Rio Grande, também acompanhada do hino gaúcho, uma espécie de ode aos farrapos (guerreiros da revolução farroupilha iniciada em 1835). E, naquela hora, a gente sempre era tomada de emoção, lembrando dos heróis. A revolução farroupilha é coisa viva em nós. Desde pequenos ouvimos as histórias, sentados na beira do fogo, em noites de inverno. Os feitos das gentes em lutas, do avô do avô e assim por diante. Para quem vive na fronteira com a Argentina e Uruguai, a coisa é ainda mais forte, e a guerra dos farrapos quase que nos determina. Nas pequenas cidades fronteiriças todos sabem quem foi maragato (farrapo), quem foi chimango (monarquista). E as divisões políticas iniciadas lá atrás persistem e ainda cindem famílias e amigos. Lá em casa éramos maragatos, do lenço colorado, farrapos. Por isso esse dia ainda tem poder sobre mim. E, quando ele chega, assomam as almas farrapas, a exigir que a luta continue, sempre e sempre, até que chegue, realmente, a liberdade.
O 20 de Setembro marca um momento único na história do Brasil. Foi neste dia, em 1835, que um grupo de cavaleiros entrou em Porto Alegre, na então província de São Pedro, dando início a um dos mais longos conflitos já vividos em terras brasileiras: a guerra dos farrapos. Os cavaleiros vinham em busca de mercado para o charque e acabaram por embandeirar uma luta sem trégua por liberdade, fraternidade e justiça. A saga dos farrapos durou 10 anos e transformou a cara do Rio Grande.

Corria o ano de 1835, e a vida no sul do Brasil não era coisa fácil. Dez anos antes as gentes da fronteira haviam vivido a guerra da cisplatina, quando o Brasil enviara seus soldados para anexar as terras da Banda Oriental (hoje Uruguai). A guerra, como sempre, acabou semeando fome, miséria e trouxe grandes dificuldades para as famílias da região. Os fazendeiros, donos das terras também amargavam prejuízos. O governo central, que acabara entregando o Uruguai, exigia tributos demais, incitando a rebelião, e a proximidade daquela parte do país com as recém formadas repúblicas latino-americanas fazia nascerem idéias nas cabeças dos jovens soldados rio-grandenses, recém saídos do conflito contra os castelhanos. Muitos destes soldados eram também estancieiros e com a concorrência da Argentina e o Uruguai no mercado de carnes, queriam que o império garantisse o monopólio do charque para os gaúchos.